domingo, 18 de outubro de 2009

MOMENTO POÉTICO


A G O R A

Despedaçou.
Voou no vento frio da tarde.
Se foi.
A louca ergueu os braços.
Tentou reter pedaços.
Soluçou.
Olhou bem todo espaço.
Toda amplidão.
Aonde?
Aonde estará o chão?
Tudo partiu-se.
Seu mundo, sua vida.
E pela primeira vez, de verdade,
surgiu no clarão da tarde,
o rosto da solidão.
Tentou tocar com a mão.
Mas solidão encarcera.
Ouviu uma música ao longe.
Vozes de anjos ou demônios.
Mas o sol se foi.
Agora é sempre noite.
E toda floresta silencia ao seu passar
.
( Letice Moura)


ENERGIAS

SÃO SERES INVISÍVEIS
MAS NÃO INTANGÍVEIS
NÃO QUEIRA EXPLICÁ-LAS
HÁ QUEM PENSA SABER
O QUE NEM SE QUER
É CAPAZ DE CONHECER
O COMUM ESTÁ A VISTA
NÃO COMENTE O QUE NÃO SENTE
NÃO JULGUE PELO APARENTE
QUEIRA APENAS SEU CONFORTO
NÃO CRIE INTRIGAS
COM O QUE É DO OUTRO
O PORTO SEGURO
NÃO ESTÁ ATRÁS DO MURO
(LUÍSA)


Medieval

Eu estou medieval por que sou servo.
Não sou um trabalhador.
Eu ando nas tabernas, pela madrugada bêbada.
Cito Camões pra impressionar.
Sou contemporâneo e cosmopolita.
Sou do século XXI.

Eu sou também um bobo da corte.
Da corte azul.
Azul Pré-sal.
Mas eu sou vermelho, sou branco
E pardo misturado.
Não sou puro.

De vez em quando eu sou capitalista.
Da capital.
Das Capitanias Hereditárias.
Da capital do Brasil.

Viajo para Europa nos domingos chuvosos.
Eu tomo a Jurema Sagrada.
Entro no túnel de São Tomé e saio em Machu Picchu.
Faço balonismo na Bélgica de Itanhaém.

Visito a louca da biblioteca à tarde.
Só tenho dois pares de sapatos.
Sou presidente.
Sou superintendente.
Eu sou medieval.
(Elivaldo Melo)


A hora do cansaço

As coisas que amamos,
As pessoas que amamos
São eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
No limite de nosso poder
De respirar a eternidade.

Pensa-las é pensar que não acabam nunca,
Dar-lhes molduras de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra(maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
E todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
De respirar a resina do eterno.

Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
Rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto acre na boca,
Na mente, sei lá, talvez no ar.
( C. D. Andrade)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

CRÔNICAS


UMA PARTIDA DE FUTEBOL


Estive em um jogo de futebol do campeonato Brasileiro da série A no dia 08 de agosto de 2009 no estádio do Santos Futebol Clube, sim, o time do atleta do século Pelé. Aliás, o time que é um dos mais conhecidos do mundo, ou será o Pelé quem o fez mais conhecido? Em fim, foi a primeira vez que levei meu filho, ora, com quatro anos e seis meses de vida. Pai presente que sou, fomos uniformizados a Vila mais famosa do mundo, assistir a partida entre o Avai de Florianópolis e o Santos (placar 2 x 2). Confesso que minha expectativa não era de ver meu filho vibrando com o jogo, torcendo sem parar, e tudo mais. Mais sim de vê-lo correr pelas arquibancadas, até porque, eu mesmo fiz isso quando fui à primeira vez ao estádio da Vila Belmiro com meu irmão mais velho.
Bingo! dito e feito, bola rolando e lá estava o Luiz a prestar atenção em tudo, menos no jogo. As luzes, o verde do gramado, o goleiro (estávamos atrás do gol ) os gritos da torcida, as cores e coreografias, refrões entoados na geral e tudo o mais que encanta e mexe com o sentimento do torcedor. Passei a observar meu filho e enxergar outros pontos deste universo mágico do mundo imaginário do subconsciente dos torcedores, dentro do que podemos admitir ser real e irreal.
Dado momento, meu filho debruçado no alambrado, inquieto, me pergunta:
- Pai vamos ao campo?
- Imagina!
Ele simplesmente queria brincar no campo; ir até lá e fazer parte do jogo! Claro que falei que não poderíamos, pois era assim que funcionava, você apenas assiste ao jogo sem participar e ponto.
Aliás, jogar bola é um momento muito singular na vida de um simples mortal, agente trabalha a semana toda e quando chega o sábado corre para “bater uma pelada” com os amigos. Coisa difícil, o que é lazer para nós é “trabalho” para os profissionais da bola, realmente é uma profissão maravilhosa.
Bem, voltemos ao palco das emoções. Comecei a observar os interesses do meu filho e reparei que a única pessoa dentre os dez mil torcedores daquele sábado à noite, ele era o único que não estava em transe.
Vejamos o cenário: um estádio de futebol, onde pessoas se acomodam para assistir uma partida. Como o jogo é imprevisível e que aquilo tudo na verdade não existe, pelo simples fato de que o futebol não é real, pois faz parte do imaginário das pessoas, a euforia que toma conta é protagonizada pela Serotonina liberada no cérebro causando sensações de êxtase que culminam em uma grande explosão! Gooool!!!
Como pode ser controlado o tempo de uma partida de futebol em quarenta e cinco minutos? O tempo passa e pronto, pois ele é real e tudo o mais que se deseja controlar nesse tempo é irreal, para podermos ter um momento de nos situarmos nele. Como o meu filho não foi avisado que tudo não passava de uma fantasia, ele apenas procurou o que era real, ou seja, tudo aquilo que ele precisava para interagir e se divertir. Então, ele passou o tempo todo correndo de um lado para o outro, derrubando as bandeiras que estavam penduradas, comprou salgadinhos, refrigerantes, pulou e subiu nas escadarias da arquibancada, em fim, fez uma bagunça.
Até que dado momento ele simplesmente me pergunta:
- Pai; vamos embora?
Essa foi de matar. Eram trinta e dois minutos do primeiro tempo. O fato é que realmente o resultado do jogo não alterou em absolutamente nada em nossas vidas; ganhasse ou perdesse. Tivemos que sair do estádio cinco minutos antes do apito final, para não sofrermos empurrões ou dificuldades na saída pelas escadarias do estádio que dava acesso a rua. Depois tivemos que andar por cerca de quatro quadras a pé, onde o carro estava estacionado. Então, paguei o estacionamento e fomos embora para casa.
Em resumo, o que move as pessoas (torcedores) a sair de casa até o estádio ou assistir a uma partida pela televisão nada mais é que o sabor de viver uma grande fantasia dentro do imaginário de cada um. Puro entretenimento.
(Antonio Mascareñas)

sábado, 29 de agosto de 2009

POR QUE A BARATA É MAIS INTELIGENTE QUE O HOMEM?




Isso não seria uma pergunta pra conversa de botequim?
Depois de muitas cervejas e já quase em final de noite, depois da “saideira”, só pra instigar mais a conversa e pedir mais “uma”. Com essa desculpa esfarrapada pra demorar mais a conversa ficaria mais interessante e fútil possível à conversa?
Ou seria um congresso científico internacional discutindo as novas correntes filosóficas de pensamento decorrentes de diversas linhas de pesquisas acerca do pensamento do homem, sua evolução no planeta, as incertezas, os avanços que a tecnologia trouxe e acabou de empobrecer o homem no aspecto mais comum da sua evolução que é o pensamento? Pois bem, não foi. A conversa debate passou–se em uma academia de musculação.
Não só as baratas e o homem “intelectual” pensam. Nós que praticamos musculação ao contrário do que muitos falam e pré-julgam pesamos também. E a idéia que os praticantes de musculação são cérebros vazios que só pensam em bombas(esteróides anabolizantes), nutrição e “ferro”, também é lenda, pois usamos o nosso ócio encefálico pra discussões profundas.
Por mais irônicas e cômicas que sejam as indagações, pois surgiram em uma conversa de academia de musculação, não deixam de ser reflexões filosóficas.
Mas, e as cervejas? E as baratas?
Calma, uma coisa de cada vez! Se não vão pensar que estávamos bêbados!
A conversa partiu da questão democrática e liberdade de pensamento e expressividade na contemporaneidade. A necessidade da tolerância, à diversidade e também da adversidade entre os seres humanos em convivência em sociedade nos dias atuais e daqui pra frente.
Porque temos obrigação de salvar o planeta? Porque transformamos e construímos novos espaços? Porque temos que preservar para sobreviver e perpetuar a espécie? Até que ponto a tecnologia é útil ao que chamamos de “evolução” humana?
O homem é mesmo o centro do universo?
O impasse surgiu das respostas dadas. E não sobrou o homem nessa estória. Eis que surgiu a barata na conversa!
O que mais intrigou e ficou sem resposta, alias era o óbvio, é que não sabemos no “que” nos transformamos, e que fim leva o homem depois da morte biológica.
Partindo do pressuposto cientifico de que tudo se transforma, foi considerada a hipótese de uma forma de “energia”- uma coisa comparada à alma- que supostamente daria continuidade a vida após a “passagem”. Mas como seria a dimensão do que chamamos de vida? Enfim, a nossa famigerada “história” não teria significado?
Outra, sendo em outro estado bio-físico e químico não teria condição(pelo menos nos dias atuas) de saber o que seria “matéria” ou “espírito” nesse novo conceito ou visão com vida após a morte.
Ou seja, chegamos ao principio da incerteza. Isso não seria uma questão filosófica?
Mas e as baratas?
As baratas surgiram na conversa em contraponto a suposta inteligência humana e “evolução” desenvolvida no decorrer de sua existência no planeta e que é, às vezes, questionadas pela ignorância e destruição do semelhante e do próprio habitat.
O ponto de partida foi que nós humanos pensamos. Somos dotados de razão. E que a prática da razão necessariamente não se manifesta em todos os seres humanos. Ou seja, temos a ferramenta cerebral, mas necessariamente ela não é desenvolvida ou usada para determinados fins, como por exemplo, preservar o planeta. E que como os outros animais agimos por instintos em determinadas horas e por outras com a ferramenta da razão. E assim, dominamos o planeta e conseguimos preservar a espécie, diferentes de outros animais que entraram em extinção.
Só que as baratas e as bactérias estão, há bilhões de anos sobrevivendo e “evoluindo” sem a necessidade de transformação do espaço e consequentemente destruição do planeta. E que na visão humana não é dotada de inteligência, pois não pratica a “razão”, ou seja, não pensam como os humanos. Apesar de rezar a lenda que as baratas possuem sete cérebros e é capaz de pensar sete vezes antes de agir. Conseguem também perceber o perigo através de mudanças na corrente do ar à sua volta, pois elas possuem pequenos pelos nas costas que funcionam como sensores, informando à hora da fuga. Mesmo com todos esses mecanismos não são inteligentes, portanto não possuem razão do ponto de vista humano.
Segunda a wikipédia(um site de pesquisa na intrnet) Blattaria ou Blattodea é uma ordem de insetos cujos representantes são popularmente conhecidos como baratas. É um grupo cosmopolita, sendo que algumas espécies (menos de 1%) são consideradas como sinantrópicas. Dentre os principais problemas que as baratas podem ocasionar aos seres humanos está a atuação delas como vetores mecânicos de diversos patógenos(bactéria, fungos, protozoários, vermes e virus).
O registro fóssil mais antigo de uma barata é datado do período siluriano, há aproximadamente 400 milhões de anos. Ela é tão antiga quanto o homem em matéria de sobrevivência no planeta. Comparando as baratas de hoje com as do passado elas mudaram muito pouco, permanecendo como insetos não especializados.
Nós humanos evoluimos tanto que nos distinguimos da espécie dos macacos e ainda duvidamos dessa origem tão preconceituosa. Pois também somos mais inteligentes, evoluidos e civilizados que os primatas.
Nas baratas as mudanças ocorreram apenas na genitália da fêmea, com a redução do ovipositor, não sendo mais visível externamente; nos ovos, que passaram a ser colocados no interior de uma ooteca em vez de individualmente (em torno de 60 milhões de anos atrás), evitando a dessecação; e nas asas, que deixaram de ter como função principal o vôo e passaram a ser de proteção do abdome, com a redução das asas em alguns casos. A maioria das espécies é solitária, com algumas espécies apresentando habito gregário (exemplificadas pelas espécies domésticas), sendo Cryptocercus punctulatus considerada como uma espécie subsocial. Em geral apresentam hábito noturno (principalmente as de ambiente urbano), sendo que neste período procuram por alimento e parceiros(as) para o acasalamento, e realizam oviposição e dispersão. Durante o período diurno permanecem escondidas.
Pelo menos nisso nos comparamos as baratas já que a espécie humana evolui discretamente para o individualismo e para o desagregamento social. Como também para o pansexualismo e quisá a auto reprodução com características hemafroditas através de conquistas da ciência, da robótica e da engenharia genetica. No quesito comportamento nosso hábito é similar, pois a eletricidade favoreceu a vida noturna, principalmente no ambiente urbano. Acasalamento humano e compulsão alimentar são hábitos noturnos. Excesso de trabalho e sesta após as refeições são necessariamente atos diunos.
As baratas gastam 75% de seu tempo descansando, o homem trabalha e pensa(e ainda 70% deste tempo pensa errado, ou seja, sem razão).
As baratas urbanas são capazes de viver três dias sem água e dois meses sem comida. A especie humana não passa um dia sem tv, internet, cigarro, e por ai vai...
Em geral, o acasalamento entre as baratas se inicia com os machos sendo atraídos por feromônios sexuais emitidos pelas fêmeas( os humanos também possuiam num passado longinquo esses instintos avançados segundo alguns cientistas e perderam ao longo do tempo afastando-se do meio natural). Quando há o encontro, o casal inicia um contato físico por meio de uma intensa antenação. O macho eleva as asas, expondo uma glândula localizada na superfície dorsal do abdome, que secreta uma substância da qual a fêmea se alimenta. Enquanto a fêmea sobe no macho para se alimentar da substância, por baixo o macho tenta introduzir a sua genitália no da fêmea, para iniciar a cópula. Quando ambos estão ligados pelas genitálias, o macho vira-se 180º, e assumem a posição conhecida como “end-to-end”(não me perguntem a sigla em inglês, pois não fui pesquisar sobre isso também, e assim já era demais, né?). A cópula pode durar uma hora ou mais, e durante este processo o macho transfere o espermatóforo para a fêmea. Os espermatozóides são armazenados na espermateca, ficando ativos por um longo período. Não apenas estímulos químicos estão envolvidos no acasalamento, mas também sonoros como na espécie Nauphoeta cinerea, cujos machos estridulam durante o ato, emitindo sons de 60dB. Os machos e as fêmeas podem copular uma ou mais vezes. Isso não é melhor que a razão?
Na evolução humana a ciência criou artefatos e artificios para a cópula humana, pois no processo civilizatório a questão do tempo também ficou cruciau para espécie humana. O processo de acasalamento transfomou-se em produto, onde o consumo requer uma série de habilidades e performances que terão que ser supridas pelas modalidades sexuais(que diante da democracia será respeitada) e pelos estimulantes criados em laboratórios. Pois, para nós humanos evoluídos, às vezes, a cópula dura apenas segundos e apenas uma vez, dependendo do tempo e do espaço.
Das cerca de 4.000 espécies existentes e catalogadas, menos de 1% são consideradas como pragas urbanas. Apesar do ser humano ser fantástico e solidário no geral as pragas humanas também estão concentradas no espaço urbano civilizado, quanto aos números de espécies de pragas urbanas não há estudos específicos no assunto para os humanos.
A razão e a inteligencia humana dispendia tempo, trabalho e dinheido em busca da eliminaçõa da especie urbana das baratas, enquanto que nós humanos servimos de nossa razão como um prato cheio para sua sobrevivencia, principalmente através de livros e revistas jogados num canto qualquer do nosso habitat. Somente no EUA(grande potencia mundial) os gastos com medidas de controle contra as baratas giram em torno de US$ 1,5 bilhões por ano. Além disso, o preço de lançamento de um produto no mercado elevou-se de US$ 2 milhões em 1950 para US$ 300 milhões em 2000 segundo pesquisas.
Mas fica a pergunta por que treinamos, levantamos peso para preservar a saúde e manter a vida e consumimos cervejas pra fazer um efeito contrario? Seria um ato irracional?
Assim, as baratas são mais evoluídas e inteligentes que os humanos, pois não se rendem as leis do consumo, aos modismos estéticos contemporâneos e ao sofrimento desnecessário de questionamentos filosófico da razão e do viver.
Enfim, razão nos dá obrigação, tira a liberdade, nos exclui do próprio meio, da própria natureza.
Porque temos obrigação de salvar o planeta?
- Temos que salvar o planeta porque estamos fadados a destruí-lo com nossa ignorância, inteligência, sobrevivência e razão. As baratas não.
Porque transformamos e construímos novos espaços?
- Por que nossa própria inteligência nos escraviza as necessidades diárias e desejos fúteis.
Porque temos que preservar para sobreviver e perpetuar a espécie?
Por que não somos baratas, nós pensamos e nosso inimigo e predador principal é a própria espécie, através da concorrência e ganância.
Até que ponto a tecnologia é útil a “evolução” humana?
Vocês não iam achar que com todo esse discurso eu seria a favor das baratas e contra a tecnologia e ao computador que facilitou eu escrever esse texto inútil.
O homem é mesmo o centro do universo?
Claro, eu sou humano. Tomo cerveja, fala e penso besteira e vivo numa democracia. As baratas não. Elas são mais inteligentes do que o ser humano, do ponto de vista das baratas é claro. (Elivaldo Melo)

domingo, 16 de agosto de 2009

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

A contribuição para a REVISTA dessa vez vem da Grazi. Numa viagem a lazer e brincado com as lentes, ela e Tabajara registraram um momento catártico.
De uma sensibilidade apurada Tabajara e Grazi fizeram de uma experiência lúdica um laboratório policrômico através do registro de várias flores do local.
A idéia aqui não é aflorar sensibilidades através das imagens, mas refletir numa perspectiva policrômica a variação e a infinidade que a natureza nos permite conceber de experiências perceptíveis.
É obvio que flores há em abundância na vida e vários trabalhos já foram registrados sobre esse tema, mas a cada passo que a humanidade evolui parece que artificializamos juntos. Sendo assim, contemplamo-nos a natureza.
Em momentos únicos nos deparamos com a percepção sobre a força da natureza e conseguimos enxergar que na vida ela sempre nos influencia, seja pela interação com as cores, ou pela complexidade da transformação.
Não importa que perspectiva aborde-se este sentido, pois a Mostra desse momento oferece o registro da sensibilidade dos autores e sua contribuição com a BALAIOS, que oportuna aos leitores a apreciação dessa catarse.
Ambrosia para a visão, pois se a natureza é magnífica sabemos, também, que a interação policrômica das flores e todo o processo de percepção humana resultam num prazer. E é esse prazer óptico que convidamos a vivenciá-lo nesse momento.
(Elivaldo Melo)














































Fotos: Tabajara Serpa Pinto e Graziela Catarino.












































domingo, 2 de agosto de 2009

2º SARAU CAIÇARA (Pinacoteca Benedito Calixto/ Santos) 26/07/2009

Germinar cultural

Nos caminhos da arte é assim: um germinar, um plantio. E a qualquer momento surge a luz. Quando pensamos que já estamos fartos de tanta barbárie surgem dos mais inesperados cantos um indulto da cultura. Ela foge das grades e celas da ganância e mediocridade para florescer na simplicidade catártica que só a arte nos propicia.
Na cultura também é assim. Ela resiste aos infinitos apelos midiáticos e efêmeros que a tecnologia produz para florescer na simplicidade popular.
Longe das grandes repercussões da mídia grupos semi-anônimos nos presenteiam com talentos inesperados e trabalhos singulares.
É desta maneira que a Confraria Balaio de Idéias congrega suas conexões culturais apreciando e divulgando o geminar da cultura.
O grupo PERCUTINDO MUNDOS mostra a grandeza de um florescer da arte com simplicidade aos moldes caiçara. Defendendo raízes e com simplicidade nos presenteia com uma performance espetacular. Quem tiver a oportunidade de conhecer o trabalho deles verá a competência e empenho em desenvolver um bom trabalho, bem como transmitir uma sensação que a música de boa qualidade ainda persiste e está viva.
Não conheço o grupo pessoalmente, mas fica aqui o registro da minha admiração pelo bom trabalho apresentado na Pinacoteca de Santos. É claro que o 2º Sarau Caiçara não apresentou só o grupo Percutindomundos; outros artistas, poetas e intelectuais desenvolveram trabalhos idênticos no talento e performances que provavelmente terei mais tempo de apreciar e divulga aqui. Apreciem um pouco das fotos na apresentação de todos.







domingo, 21 de junho de 2009

O PORCO DA BUEIRA


Tá na hora do trem que vai pra Extremóz passar e quando chega essa hora, é a maior correria. Bota as galinhas pra dentro, menino. O caningado já tá querendo pegar morcego no trem: quando não é isso, é com a baladeira na mão, pra caçar. Lá vem a Dona Celestina. Vem da bodega do seu Raimundo: foi comprar pão pra janta. Só tomam café com pão e mixou. Não sei como esse povo agüenta.
Duvido de alguém passar na bueira depois de escurecer. Às vezes, eu penso que é mentir do povo. Imaginem, um porco que passa grunhindo do começo da rua até bueira e some! Só se vê a réstia passando. Dizem que é grande, do tamanho de um jegue; mas tem gente que diz ser ele menor. Só se sabe disso, como em toda estória de assombração. Essa cambada de matutos...
Olha, esse povo é muito falador. Quando ta escurecendo, Maria Engelhada fica num pé e noutro, e já que ir pra janela. Parece o cão; repara quem vai e quem vem, até as tantas. Seca, igual a um espeto, parece dois palitos enfiados num sabugo. Diz que já viu o “porco”. Outro dia, levou um tabefe do João Bocão. É bem feito! Quem não pode com o pote não pega na rudia. Esperou até de madrugada, quando ele com Luzimar; ela também tava lá, brechando, e depois encheu a beira da linha com a notícia. Já pensou, uma moça chegar em casa a essas horas!
Ele é outro safado. A mãe, coitada, se matando de trabalhar; fazendo beiju, tapioca e grude pra vender na feira do Alecrim, e a única coisa que ele faz é botar água de “pau-de-galão” nas casas; mas, estoura tudo que ganha farriando no fim-de-semana. Sem contar o chamego com a Zuleide – que ninguém saiba!
Um dia, sem querer, esqueci o urinol lá fora. Era tarde e eu só vi um vulto. Pensei até que fosse o “porco”; mas, era o João que não ia pra bueira, não. Ele entro de mansinho na casa de Zuleide – se o marido dela sabe...Mas, marido e pai são sempre os últimos a saber. Aquele coitado é vigia; e ela também trabalha fora de enfermeira. São uns lascados sem beira nem eira. Um trabalha de dia, o outro de noite; só se encontram praticamente no fim-de-semana. Já não chegava a cachorrada que aconteceu lá no hospital: todo mundo ficou sabendo. Tá pior que a Rita Taioba! Galega de farmácia, só pega porcaria. João vive de arruaça com aquele mangote de vagabundos; o marido vive com aquela catinga de bode debaixo do sovaco. Vote! Nem quero me meter nisso; dizem que ela é catimbozeira.
É até bom minha casa ser do lado da sombra porque, quando tá muito sol quente, boto o tamborete na calçada, as crianças sentadas no batente da porta, e fico tomando um ventinho. Sempre faz um calor de rachar.
Eita! Tá na hora da janta. Eu ia me esquecendo dos afazeres da casa.

Elivaldo Melo(SEFUG- S.C.SUL 1989)

domingo, 7 de junho de 2009

VINTE E UMAS PERGUNTAS!

MÔNICA SAVOLDI nossa primeira entrevistada do grupo.

Ela já foi a Europa e enxergou o mundo capitalista desenvolvido, já excursionou pelos países latinos americanos l como Bolívia, Argentina, Peru e Chile e recentemente visitou o tão falado resquício do “mundo socialista”: Cuba. Vamos Vê o que tem a falar essa socióloga com uma bagagem tão diversificada.

1- Você é uma socióloga de tradição marxista. O que você tem a dizer sobre as novas interpretações de Marx?
Compartilho com todos aqueles que ao analisarem a história dos homens, não perderam o foco na realidade. Cito István Mézáros, Georg Lukács, Ricardo Antunes, Florestan Fernandes, entre outros.

2- Suas leituras e publicações abordam sempre temas latino-americanos. Sua formação acadêmica a influenciou nesse caminho?

Confesso que desde muito cedo tenho uma veia revolucionaria que pulsa muito forte, certamente o que fez com que eu fosse estudar Ciências Sociais foi a indignação contra uma série de injustiças advindas do sistema capitalista em sua fase imperialista. Nesse sentido, destaco a relevância das “veias abertas de nossa América Latina”, expostas com muita clareza pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano.
3- Entre as viagens que realizou, também esteve na Europa. Quais países você visitou, e o que chamou lhe chamou mais atenção?

Na Europa tive a oportunidade de conhecer a Bélgica, Itália, Portugal, Espanha, e França.
Até conhecer Portugal, havia uma lacuna entre o que contam os livros de história e nossa realidade. Andar pelas ruas de Lisboa, Porto, Coimbra, Fátima, Nazaré... Conversar com as pessoas, olhar pra arquitetura de castelos, mosteiros, conventos,... Proporcionou-me um olhar mais atento sobre o que nos une e nos separa.

4- O mundo capitalista desenvolvido não a seduziu ideologicamente?
Na verdade não sou contra o avanço tecnológico, tampouco acredito que a humanidade precise retornar para a caverna, mas não me deixo seduzir pelo Capitalismo, porque sei que é inerente ao sistema o movimento desigual e combinado em escala planetária, ou seja, à medida que potencializa a produção, também cria uma série de necessidades que não serão atendidas nas classes menos favorecidas, portanto ao contrário de me encantar, me desencanto cada vez mais com essas desumanidades.

5- Poderia traçar um paralelo entre os países da América Latina e os Europeus?

Até hoje vivemos os impactos da colonização européia na América Latina.
Em busca de riquezas, os europeus cometeram um genocídio sem precedentes em nossa América.
Concordo plenamente com o presidente boliviano quando diz que vivemos 500 anos de exploração e espoliação européia.

6- O Marxismo foi superado?
Nossa história é a história da luta de classes, da alienação, da mais-valia, da manipulação econômica, social e política, do exército industrial de reserva... Só poderíamos afirmar que Marx fora superado, se todos esses combustíveis do Capitalismo tivessem desaparecido.
7- Como analisa as novas leituras e paradigmas da sociologia contemporânea?

Questiono as leituras da história que tem como pedra de toque o pós - modernismo. Afinal quais seriam as rupturas com a Modernidade para que agora a denominemos de pós?

8- Se fosse indicar um livro a um amigo qual seria?

Gosto muito de Dom Quixote, nele vejo a simplicidade, o sonho, o encantamento e a perseverança, eis um livro que indico sem medo.


9- E a uma pessoa indesejável?

Bom mesmo seria se não existissem pessoas indesejáveis, mas já que isso não é possível, talvez indicasse o mesmo, quem sabe a leitura pudesse despertar algo positivo.


10- Como recebeu o convite para participar da “Confraria Balaio de Idéias”?

Fiquei muito honrada com o convite e espero corresponder às expectativas do grupo.

11- Você esteve ausente ao Primeiro Colóquio devido uma viagem à Brasília. Pode falar um pouco do evento que participou?
Participei da Teia Nacional Cultural, evento em que participaram diversos representantes culturais do país inteiro. Lá pudemos interagir com grandes referências como Dona Teté e seu Cacuriá, mestre Salustiano, Quinteto Violado, mestres Griôs, índios do Xingu, Nelson Triunfo, entre outros não menos importantes.
Em completa harmonia realizamos debates e apresentações que culminaram com um cortejo que simbolizou a reproclamação da nossa República (era um 15 de Novembro), já que a proclamação não teve participação popular.

12- Quais atividades relacionadas à arte, história, literatura e afins você desenvolve?
Frequento vários saraus literário-musicais, sou editora de um periódico virtual que tem como pressuposto uma integração entre os países da América Latina e Caribe.
Defendo a Revolução Cubana participando da Brigada de solidariedade Sul americana.
Desenvolvo projetos na prefeitura de São Paulo, cujo mote é a valorização de nossa história, cultura e arte.

13- O que seu artigo “Porque Somos Bolivarianos” trás de novo à literatura cientifica?
Creio que o elemento novo do meu artigo é justamente colocar na pauta do dia a discussão sobre nossa latinidade, bem como a urgência de nossas demandas preconizadas por Simon Bolívar.

14- Um livro lançado é pouco? Por quê?
Sim. Devido à complexidade dos temas tratados, um livro é apenas um aperitivo.

15- Das suas viagens para onde você voltaria e pra onde não voltaria mais? Por quê?
Sempre que posso retorno a Cuba, pois desde a primeira vez que estive na ilha vivi uma catarse. Lá revi conceitos, entrei em choque diante da discrepância do que vivemos aqui e a realidade cubana. Precisei viajar pra tão longe pra entender os verdadeiros sentidos das palavras solidariedade e rebeldia.
Não há lugar que eu tenha ido que não voltaria. O que acontece é que quando cheguei à Bolívia tinha uma visão romântica do índio, assim enfrentei muitas dificuldades para compreender aquelas “existências”, a meu ver, só comparáveis ao sofrimento de quem enfrenta a seca no Brasil.

16- O que falta na nossa democracia?
Eliminar a corrupção.
Vivemos um câncer social em metástase. Precisamos desenvolver mecanismos que confiram idoneidade, lisura, seriedade e respeito em todos os setores públicos.


17- Mudaria de país, ou morre pela pátria?

Sou brasileira e gosto muito desse país!
O Brasil é o país da diversidade, da miscigenação, o que precisamos é tomar atitudes que extirpem a corrupção e não tenha lugar para a subserviência.

18- O que as cubanas têm?
As cubanas eu num sei não, mas os cubanos aah esses tem de um tudo, (risos). Dignidade, Saúde, Educação, sobretudo total resistência ao Imperialismo.
19- Você fez uma pós-graduação em sociologia e história do trabalho. Tem planos para um mestrado/ doutorado nessa área ou mudaria de linha de pesquisa?

Sou de uma família de origem muito simples. Minha mãe era merendeira escolar e meu pai motorista de táxi, para ambos os maiores valores que poderíamos ter é o conhecimento através dos estudos.
Por isso venho refletindo, já faz um tempo, em retomar minha vida acadêmica.
As questões cotidianas me inquietam a todo tempo. Em todos os lugares por onde ando costumo ir às feiras livres, observo as diferentes linguagens, a comunicação, o colorido, o ir e vir das pessoas, estou inclinada a desenvolver um mestrado trazendo a baila esse universo.


20- O socialismo acabou definitivamente com a extinção da URSS e a queda do muro de Berlim?

A Idade Média com seus mil anos parecia não ter fim, mas hoje o que restou dela?
Para a história dos homens o Capitalismo é recente, embora pareça ser infinito, haja vista o tamanho do estrago que faz.
Podemos constatar que os abusos desse Modo Produção hegemônico não deu certo, daí a possibilidade de desenvolvermos uma outra sociabilidade para além do Capital, e por que não o Socialismo?

21- Como educadora que perspectiva você vê na juventude atual?
A generalização é muito ruim. Tenho alunos com muita dificuldade de aprendizagem, com problemas sociais enormes, os quais refletem diretamente na escola. Por outro lado, também tenho alunos brilhantes, críticos, sensíveis.
A cada dia de trabalhado com eles, procuro refletir sobre o alcance de minhas aulas em concordância com essas necessidades.
Os adolescentes têm como característica o imediatismo, vislumbrar um futuro é quase impossível para eles, sendo assim, priorizo as discussões sobre “o ser”, em detrimento do “ter” e do tempo.
Penso que precisamos investir mais e mais na juventude atual para que possamos ver luz no fim do túnel.


22- Como você analisa a Escola Pública no Brasil hoje?
Sou oriunda da escola pública, minhas filhas estudam nela, portanto acredito e defendo essa escola, sem suprimir as críticas.
Houve um período em que a escola pública tinha uma qualidade incrível, mas a massificação, o desprezo de sucessivos governos nos enveredou por caminhos tortuosos.
Levaremos bastante tempo para conseguirmos uma educação com a qualidade que queremos, mas não abandono a luta diária. Muitas vezes ao término de uma aula comento com os colegas que valeria um salário 3 vezes maior que recebo, mas desempenho meu trabalho como se isso fosse liquido e certo, embora não abra mão de lutar pelos nossos direitos, seja na questão salarial ou nas condições de trabalho.

23- Para finalizar, por que somos todos Bolivarianos?
Porque o ideário de Simon Bolívar não tem prazo de validade.
Cecília Meireles expressou de maneira genial essa luta incessante por liberdade, defendida por ele:
“Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.


Obrigado.



domingo, 31 de maio de 2009

2º Colóquio / Guarujá - SP 2009

Um Mar de Ventura



Vibrações policrômicas passeiam no éter.
A terra sob uma chuva de benção é
banhada pelo rio cósmico da vida.

Sintonizemo-nos nesse mar de ventura

e somente nele.

Como várias dimensões coexistem no mesmo lugar
o bem e o que não é o bem convivem no mesmo espaço.

É a sintonia que faz a diferença.

Como num espaço aéreo que trafegam milhares

de transmissões ao mesmo tempo,mas cada aparelho
de rádio ou televisão capta apenas a informação desejada.

Portanto, nada de sintonizar com o que não vem em

harmonia divina,não citarei nem mesmo o nome
do que não é da luz.

Só a força cósmica atuante do amor onipresente e

harmonia onipenetrante tem sabedoria para discernir
sintonizando com acerto.


Palestras com: Mônica Savoldi & Marco Aurélio Morgado

Marco Aurélio Morgado Abordou sobre tecnologia e
Ciência e suas perspectivas para um futuro não muito
distante.








A socióloga Mônica Savoldi abordou as problemáticas
sociais latino-americanas e a realidade cubana.