domingo, 21 de junho de 2009

O PORCO DA BUEIRA


Tá na hora do trem que vai pra Extremóz passar e quando chega essa hora, é a maior correria. Bota as galinhas pra dentro, menino. O caningado já tá querendo pegar morcego no trem: quando não é isso, é com a baladeira na mão, pra caçar. Lá vem a Dona Celestina. Vem da bodega do seu Raimundo: foi comprar pão pra janta. Só tomam café com pão e mixou. Não sei como esse povo agüenta.
Duvido de alguém passar na bueira depois de escurecer. Às vezes, eu penso que é mentir do povo. Imaginem, um porco que passa grunhindo do começo da rua até bueira e some! Só se vê a réstia passando. Dizem que é grande, do tamanho de um jegue; mas tem gente que diz ser ele menor. Só se sabe disso, como em toda estória de assombração. Essa cambada de matutos...
Olha, esse povo é muito falador. Quando ta escurecendo, Maria Engelhada fica num pé e noutro, e já que ir pra janela. Parece o cão; repara quem vai e quem vem, até as tantas. Seca, igual a um espeto, parece dois palitos enfiados num sabugo. Diz que já viu o “porco”. Outro dia, levou um tabefe do João Bocão. É bem feito! Quem não pode com o pote não pega na rudia. Esperou até de madrugada, quando ele com Luzimar; ela também tava lá, brechando, e depois encheu a beira da linha com a notícia. Já pensou, uma moça chegar em casa a essas horas!
Ele é outro safado. A mãe, coitada, se matando de trabalhar; fazendo beiju, tapioca e grude pra vender na feira do Alecrim, e a única coisa que ele faz é botar água de “pau-de-galão” nas casas; mas, estoura tudo que ganha farriando no fim-de-semana. Sem contar o chamego com a Zuleide – que ninguém saiba!
Um dia, sem querer, esqueci o urinol lá fora. Era tarde e eu só vi um vulto. Pensei até que fosse o “porco”; mas, era o João que não ia pra bueira, não. Ele entro de mansinho na casa de Zuleide – se o marido dela sabe...Mas, marido e pai são sempre os últimos a saber. Aquele coitado é vigia; e ela também trabalha fora de enfermeira. São uns lascados sem beira nem eira. Um trabalha de dia, o outro de noite; só se encontram praticamente no fim-de-semana. Já não chegava a cachorrada que aconteceu lá no hospital: todo mundo ficou sabendo. Tá pior que a Rita Taioba! Galega de farmácia, só pega porcaria. João vive de arruaça com aquele mangote de vagabundos; o marido vive com aquela catinga de bode debaixo do sovaco. Vote! Nem quero me meter nisso; dizem que ela é catimbozeira.
É até bom minha casa ser do lado da sombra porque, quando tá muito sol quente, boto o tamborete na calçada, as crianças sentadas no batente da porta, e fico tomando um ventinho. Sempre faz um calor de rachar.
Eita! Tá na hora da janta. Eu ia me esquecendo dos afazeres da casa.

Elivaldo Melo(SEFUG- S.C.SUL 1989)

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