quarta-feira, 2 de outubro de 2013
PEDRAS BRANCAS
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Ao vento que nunca teve vergonha
Folheou o seu livro e recitou.
Email:seludi@hotmail.com
tel: (13) 3425-5734 Itanhaém SP
terça-feira, 15 de maio de 2012
“Há um incêndio sob a chuva rala”
domingo, 30 de janeiro de 2011
Sobre a arte de congelar pessoas
Lendo uma reportagem numa revista de grande circulação sobre o tempo que um apresentador tem no comando de seu programa em uma Rede de Televisão me deparei com um questionamento: ele está na faixa dos trinta e cinco anos bem sucedido e também produziu grandes feitos na vida pessoal e profissional.
Até aí tudo bem, caso não o comparasse com um cidadão comum: Estagnado, com mais de trinta anos, com uma profissão sem reconhecimento, sem grandes feitos, tanto na vida profissional, como pessoal. Aí me vem à pergunta:
- seria isso uma forma de congelamento das pessoas no tempo?
Essa estagnação, essa suposta incompetência, que algumas pessoas vivem no tempo e no espaço e que outras tão “glamourosamente” nos “inferioriza” a ponto de refletimos e pensarmos que estamos congelados no tempo? Sem produzir nada, sem criar nada e só reproduzindo “coisas” e pensamentos.
Pois é, foi nisso que pensei.
O cotidiano nos comprimem a uma enfadonha rotina de tarefas que, às vezes, desagradáveis e ouras nem tanto, parecem que nos obriga e nos condicionam a uma suposta “pedra de Sísifo” e transforma a nossa vida em um tormento contínuo. Quando pensamos que conquistamos algo vem sempre um problema do tamanho de nosso empenho e de nossas conquistas. E, às vezes, nem tão grande assim, mas conseguimos sem refletir, transformá-lo numa coisa gigantesca! E é isso que nos congela. É isso que nos dá a sensação de paralisia. Tanto perante a vida, quanto aos projetos realizados e bem sucedidos no nosso cotidiano que chega ao ponto de não percebemos que evoluímos e nos transformamos. Onde ficaria então a sensação de congelamento?
Não é de hoje que a Ciência tenta congelar o ser humano, nem é novidade o esforço que o homem faz pra descobrir a máquina do tempo. Pois bem, nós temos a máquina de congelamento. Ela reside na percepção que temos de determinados assuntos e reflexos sociais. A arte de congelar o ser humano está na percepção que temos que algumas pessoas já nascem prontas, plastificadas, com rótulos e expostas em vitrines de lojas e supermercados.
Homens e máquinas! Estamos vivendo um paradoxo contemporâneo que nos conduz a um pensar automático. Não nos conscientizamos de que a vida é um processo. E cada processo tem suas nuances e reflexos contínuos e harmoniosos. A vaidade e o egocentrismo exacerbado da natureza de cada um faz com que se percam a noção desse tempo e espaço reservado pela vida para saborear cada passo, cada momento, transformando assim, nossa vida e nossa figura humana, num verdadeiro super-star, num super-homem, ou qualquer coisa que nossa percepção possa compreender e distorcer da realidade, de um cotidiano comum. Sem que possamos nos comparar com reflexos midiáticos e ilusórios. Com personagens criados para o consumo, seja de produtos, como de idéias prontas e bem sucedidas. Aí sim ficamos inferiorizados, pois é impossível todos nascerem bem sucedidos e ter todas as oportunidades possíveis e asseguradas. E, enfim, ter o final feliz.
Apesar de num determinado momento histórico a Ciência tenha considerado o ser humano similar a uma máquina potenciadora de energia, sabemos hoje que interagimos com outros seres e com outras matérias e formas de energia. Portanto, máquinas sim, mas de congelamento! Congelamento das idéias!
A idéia nasce da percepção que cada um tem de si e do mundo que os rodeia, dos projetos de vida, das necessidades, e dos desejos que projetamos a cada passo ( é, a cada passo), pois o ser humano é mutável, pelo menos foi isso que me ensinaram e que aprendi nos livros. Assim seria muito contraditório pensar em congelamento humano levando em consideração a idéia de mutação. Outra projeção humana – a metamorfose ambulante – mas, não entraremos nesse mérito da mutação humana, se estamos refletindo sobre o oposto, que é a arte do congelamento.
Então de que maneira nosso cérebro congela as pessoas e nos congelamos também, ora, pois, pensando!
A sensação que temos que o tempo passou e não fizemos nada na vida em comparação a outras pessoas é puramente ilusória.
Você diria:
E daí? Todo mundo pensa nisso.
É, mas eu diria:
Pensa, mas não congelado!
Nisso reside à arte de congelar pessoas. Pois embora estejamos completamente alienados, vivendo consumindo todos os produtos fúteis e efêmeros que a contemporaneidade nos oferece, ainda assim pesamos, ou seja, não somos máquinas!
É isso que nos salva de qualquer sentença de condenação a uma máquina. E nos libertamos desse calvário, onde nos desacordamos da vida e nos comparamos com entidades e mitos humanos produzidos pela mídia.
É o mesmo pensar “alienado” que nos faz delirar no tempo-espaço da vida e do cotidiano e refletir na real, sem mascaras, luzes, e programas de retoques de computador. Acharemos assim a maneira deslumbrante e magnífica da arte de congelamento humano, mas o congelamento de entidades geradoras de fantasias. Onde possamos nos orgulhar dos nossos feitos, grandiosos pela magnitude de existir e não de refletir. Pelo ato de simplesmente acontecer, sem obrigações, importâncias e responsabilidades rígidas e impossíveis.
E assim a arte de congelar pessoas será alcançada pelo simples ato de pensar, inerente a todo ser humano(mesmo estando alienado). É democrático.
Portanto, podemos congelar pessoas pensando.
O que faz uma pessoa passar nove, dez ou vinte anos no mesmo programa de TV, na mesma emissora, com a mesma fortuna, a mesma audiência, com os mesmos mimos? Sem crises, sempre rindo, sem perder o emprego, sem ser traído pelos amigos, pelos irmãos, sem ser abandonado pela amada e sem tomar um porre no boteco? Não é um congelamento?
Pois é, a vida é mutante, assim como nós. E a arte de congelar pessoas alcança seu ápice no pensar, ou melhor no não pensar nessas bobagens que nos rodeiam continuamente sem que possamos nos livrar delas e nos faz pensar que somos inferiores, que não temos projetos bem sucedidos. E que a vida comum não tem valor, as pessoas comuns não tem valor.. Por que ela não acaba, nem começa. Ela simplesmente acontece ou congela. E nós temos a arte de congelar pessoas. Precisamos saber se congelamos os mitos ou a nós mesmos.
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sábado, 30 de outubro de 2010
Abre a porta Maria!
Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar... Já era tarde e cansou de esperar.
No meio da floresta havia um casebre onde morava uma bela moça chamada Maria. Ela vivia esperando o seu grande amado que partira sem dá notícias de uma hora para outra.
Tudo ficava longe para Maria, sem noticia, sem parentes e a única companhia de Maria era seu cachorro pequeno, que de tanto convívio, parecia que falava telepaticamente com Maria.
Ás vezes, durante a noite Maria sempre recebia uma visita assustadora com voz tremula que batia a sua porta e fazia a pergunta:
- Maria?
-abra porta Maria!
E seu fiel cachorro antes mesmo que Maria acordasse anunciava:
Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar.
Depois de muitas noites Maria percebeu que alguém visitava sua casa e era impedido de entrar.
Maria irritada já não estava gostando das antecipações de seu amigo e começou a questionar.
E se fosse seu amado agoniando e tentando fazer um contato.
Maria passou então a dormir mais tarde para que seu cachorro não tivesse chance de responder e Maria conseguir fazer pelo menos um contato.
Numa dessas noites enluarada o ventou soprou novamente e dessa vez assustadoramente. Seu cachorrinho assustado correu rapidamente ficou atrás da porta.
De repente ouve-se batidas.
E a voz novamente:
- Maria?
- abre a porta Maria!
Antes que Maria respondesse o cachorro falou:
- Maria lavou os pés, lavou as mãos, e foi se deitar...
Irritada, Maria começou a gritar com seu cachorro. Precisava agir para que ele não interrompesse mais as investida que ocorriam nas noites de luar.
E se fosse seu amado de volta? E se fosse um príncipe?!
Poderia ser alguém que fosse salvá-la daquela solidão.
Então desesperada amarrou seu cachorro e deixou-o de castigo por alguns dias. Quem sabe assim ele aprendia e quando a chamassem de novo ele não poderia interromper sua aproximação de alguém que poderia lhe tirar daquela solidão e daquele lugar horrível.
Passaram-se alguns dias e novamente ao cair da noite, e já tarde, o vento começa a soprar.
Maria, desta vez atenta, ficou perto da porta.
E a voz pergunta:
- Maria?
- abre a porta Maria!
E antes que Maria respondesse o cachorro, mesmo amarrado, dá um uivo estremecedor atrapalhando Maria e responde ofegante:
- Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar!
E o vulto novamente vai embora deixando Maria em paz.
Maria em estado de fúria mata o cachorro e o enterra no quintal.
E fala pra se mesma:
- agora quero vê quem vai me atrapalhar!
Passado alguns dias e ao cair da noite Maria ansiosa espera a voz que tanto a procura.
Quando o vento sopra a porta recebe as pancadas e a pergunta é feita:
- Maria?
- abre a porta Maria!
E antes que Maria respondesse lá de fora veio uma voz:
- Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar.
E o vulto sombrio afastar-se e vai embora novamente.
Maria desesperada xinga o cachorro de tudo que é nome. E no outro dia desenterra os ossos do quintal e queima-os deixando só as cinzas espalhadas pelo chão perto do jardim.
A noite cai e Maria mais que ansiosa a esperar pela voz que a chama novamente:
- Maria?
- abre a porta Maria!
Maria entrou em estado de choque, se atrapalha, e demora a responder.
E do quintal as cinzas respondem:
- Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar.
O vulto vai embora novamente.
Maria sem entender mais nada começou a se lamentar e rogar praga sobre o cachorro que a protegia.
De repente o vento sopra e levar embora as cinzas pra bem longe da casa de Maria. Livrando-a de vez daquela proteção excessiva.
Passados alguns dias Maria conformada com a situação de abandono nem lembrava mais do cachorro nem do pretendente que a vinha buscar durante as noites enluaradas.
E no meio da noite escuta uma voz longe. E a porta a bater:
- Maria?
- abre a porta Maria!
Assustada e nervosa corre a porta e espera bater novamente pra ter certeza que não era apenas um sonho. E a voz a chama:
- Maria?
- abre a porta Maria!
Maria abre e se assusta! Um monstro horrível veio lhe matar.
O vento havia levado as cinzas obedecendo a seus pedidos e lamentos.
E sua proteção que sempre a defendia já não existia mais.
O seu anjo da guarda em forma de cachorro havia partido pra sempre.