quarta-feira, 2 de outubro de 2013

PEDRAS BRANCAS




Para descansar, não há nada melhor do que uns dias na praia. Não digo aqueles de alta temporada, pois nessa época é provável que a pessoa volte mais cansada do que foi.

Sei que essa questão de gosto é individual. Para alguns uma semana de compras em país estrangeiro é deleite garantido, para outros é o contato com as matas fechadas, outros ainda relaxam enquanto visitam museus dos mais diversos tipos. Cada um tem sua preferência. Quem irá dizer o que realmente nos faz bem, senão nós mesmos?

A última vez em que estive na praia, fiz a coisa que mais gosto de fazer, por ali, que é caminhar descalço na areia. Ah como é bom caminhar na areia! Os pés tocando o solo, descarregando nosso corpo das vibrações negativas. Caminhando, comecei a pensar nas pessoas que amo. A maioria estava longe e me deu uma vontade muito grande de estar perto delas.

Imediatamente me pus a pegar do chão pedrinhas brancas. Por que brancas? Os motivos, irei dizer a seguir. Escolhi as de cor branca, por simples analogia à cor da paz e da pureza. E, diante de tanta variedade de pedras, haveria de fazer uma escolha, porque senão juntaria uma pedreira.

Fui caminhando ali, agachando a cada pedra “preciosa” que encontrava, e colocando-as em um saquinho de plástico. Levaria comigo quantas fosse capaz de recolher.

Há algum tempo um livro me ensinou que não existe nada, mas nadinha, mais precioso do que o poder da gratidão. É certo que se deve almejar sempre algo mais ou melhor. Mas, por outro lado, não conseguiremos isso maldizendo a vida que possuímos, as coisas materiais que temos, reclamando das pessoas em torno de nós.

Um dos autores desse livro queria dedicar um ou dois minutos de seu dia para agradecer por tudo aquilo que a vida lhe entregara, mas, com o atropelo da rotina, quase sempre se esquecia. Um dia, olhando uma gaveta, achou uma velha pedrinha que sua filha, quando ainda era uma criança, lhe deu como presente. Sorriu com satisfação. Era uma lembrança boa. Agradeceu pelos filhos perfeitos que possuía.  

Pegou a pedra na mão e teve uma brilhante ideia: “Vou levar essa pedrinha comigo, em meu bolso, todos os dias”. Todas as manhãs a rotina se cumpria, junto a sua carteira, aliança, celular, lá estava sua pedrinha. Ao pegá-la agradecia em pensamento tudo aquilo que fazia parte de sua vida. À noite, quando chegava em casa, repetia o ritual ao contrário, pois ao esvaziar os bolsos estava lá o “lembrete” simbolizado pela pedra. E, novamente, fazia seus agradecimentos.

Esse livro diz que se há alguma coisa de extrema relevância em nossos pensamentos é a força da gratidão. Após tomar conhecimento, adorei a ideia e fiz o mesmo. Interessante lembrar que tinha guardado uma pedrinha que minha filha Maria me deu, então automaticamente passei a adotar tal procedimento.

Enquanto caminhava na praia, tive a ideia de levar “pedrinhas da gratidão” a todos os que me são caros, pois, juntamente com um papel escrito, entenderiam os motivos que me levaram a presentear meus amigos e familiares com simples pedras brancas.

Já no caminho de volta, pensei na cena: eu dando uma pedra para cada um. Fiquei com vergonha. Naquele momento pensei: as pessoas não vão entender o meu presente, algumas prefeririam camisetas, bonés, ou qualquer coisa que se possa usar sobre o corpo. Desisti da ideia pensando que alguns iriam dizer que fiz isso simplesmente por economia... Penso que muitos não entenderiam o que imaginei.

Muito mais importante do que um presente que proporcione o uso é oferecer um presente que provoque alguma mudança positiva nas pessoas. Mas não tive peito pra isto. Ao desfazer as malas foi deixada na estante da sala a riqueza que eu trouxera da praia: minhas pedras brancas.

Fui até o tanque e lavei-as, para tirar o que sobrou de areia. Depois coloquei-as em um vidro e completei com água juntamente com um produto para deixá-las mais claras. Minha tristeza foi não conseguir fazer como havia planejado, faltou-me coragem; e, por isto, as deixarei à espera de pessoas que valorizem as pequenas coisas.

Quem aí, entre os meus leitores, gostou da ideia que me procure, pois poderei entregar uma pedrinha dessas a você. Porque elas são muito preciosas para estarem nas mãos de pessoas que não as valorizem. Então escolhi entregá-las à medida que forem sendo pedidas. Sei que muitos daqueles para os quais peguei as pedras irão pedi-las. Posso ter feito mal juízo de alguns, mas, podem ter certeza, cada um dos que pedir me trará uma alegria para o coração. Saberei então que estamos sintonizados na mesma rádio. Será um prazer poder dividi-las.

 

 

Livreiro dos Araças

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ao vento que nunca teve vergonha




Uma dor insuportável, um remédio alucinógeno, um dia nublado, uma cidade mística.

Uma combinação nada agradável para enxergar a catarse.

Um poeta pergunta-me:

- Por favor, gosta de poesia?

- mas ou menos, lhe respondo;

- escolha uma página. Esse é o meu trabalho.

Escolhi a página e veio a poesia: Colar

Ele recitou:

COLAR

O colar é uma canção

que faço

Quando atravesso pérolas

Com um cordão que tenho



O cordão

É um dom

Que permita

Sem censura



O cordão

É uma entrega

Infinita

De amor e de amargura



A pérola é esta perda

De juízo

Que o cordão transporta.


- São dois livros, eu produzo e vendo-os assim.

- vou levar os dois.

- Que bom que apreciou.

Confesso que a principio o que me impressionou não foi sua poesia, mas sua coragem, sua força de produzir, de resistir a uma corrente humana de era das trevas, de um entrave, manipulação, estagnação, desestímulo, ou seja a não-poesia da vida.

E ele tava ali com uma coragem como está em um dos títulos de seu livro:

Ao vento que nunca teve vergonha.  

Ele me pergunta novamente:

- Posso lhe recitar outra?

- Claro.

Folheou o seu livro e recitou.



NESGUINHA

Não era meio dia ainda

E aquela avenida já nas sombras.

Algumas avenidas do centro

Nervoso  são mesmo assim

Com dias sombreados e noites ofuscantes.

Nelas o néon é mais intenso que o Sol

E sol mesmo só acima do sexto andar.

Uma nesguinha de sol, quase nada,

Iluminou o menino

Sentado do outro lado da calçada.

O menino e uma velha colcha por baixo em meio

Ao vaivém automático dos transeuntes espremidos pelos autos

Iluminados pelo filete de luz

Que vazou por entre o moderno

Banco japonês e o casarão antigo, hoje, imobiliária.

 Que cena.

Pena o menino não ser o fotógrafo nem diretor de cinema.

Para todos foi só coadjuvante, para mim, o astro da nesguinha.

E para ele, ele mesmo.



Eu falei:

- Eu tenho um blog, você me autoriza divulgar seu trabalho?

- Claro.

- Posso tirar uma foto sua com seu livro?

- Sim, muito obrigado por divulgar meu trabalho, vou acessar e vê depois.

Tiramos a foto.

Ele depois me fala:

- hoje é um dia diferente, tanta gente passando e não dando atenção e você além de comprar ainda quer divulgar. Isso é troca de energia.

Eu agradeci e concordei. Prometi divulgar seu trabalho e está aqui. Que a energia gerada naquele momento inspire outras pessoas a produzirem todas as formas de poesias e que não tenham vergonha de expô-las.

POR DETRÁS DA ÍRIS


Que fino fio separa

A lógica da loucura?

A cara sensata do sol

Do ventre envolvente da noite?

Que diferença há

Entre a solidão de antes do amor

E a dor após o fim do benfeitor?

Quando a supernova no céu se extingui

E nos parece sempre que foi cedo demais?



Afinal, o que há por detrás da íris?

Qual mundo lá existe?

Vai-se feliz?

Segue-se triste?


Não perguntes nada disso a quem passar amando.

Este, nunca te escutará.



Encerro com sua foto e a frase final do poema Por detrás da íris:

NÃO PERGUNTES NADA DISSO A QUEM PASSAR AMANDO, ESTE, NUNCA TE ESCUTARÁ.
contato com o Poeta para adquerir seus livros:
Email:seludi@hotmail.com
tel: (13) 3425-5734 Itanhaém SP
 Sérgio Luiz Dias

terça-feira, 15 de maio de 2012

“Há um incêndio sob a chuva rala”



Hiato* ou idade das trevas. Houve um período vazio aqui no blog e isso me incomodou, mas coube reflexão. Nesse momento há uma estagnação na proposta inicial que era produzir coisas que estimulasse o pensamento, a reflexão e um possível desenvolvimento intelectual.

Não gosto de forçar nada, pois acredito no fluir das coisas e a esse momento posso considerar dois pontos de vista: um hiato, uma pausa e descanso de algo que quer tomar fôlego para depois eclodir. Ou simplesmente, as “trevas” das ideias, um período morto, sem produtividade, pensamento, reflexão, evolução...a Idade Média propriamente dita.

A contemporaneidade assusta com a falta de criatividade artística e cultural. Com a paralisia no pensamento coletivo e produtividade. Parece que há uma conspiração universal para não fluir, pelo menos aos olhos nus.

Mas acredito num hiato*.  Por que, mesmo na Idade Média ou período Feudal, criavam e produziam-se coisas, nem que fossem as escondidas dos grandes olhos dentro das tabernas. Aliás, a marginalidade é muito complexa para uma analise histórico-social. O que seria a margem? O que define a marginalidade das coisas e do pensamento? Qual o limite da universalidade para caracterizar o marginal? Quem está dentro e quem está fora? O que é válido?

Por isso uso um trecho da música do Cazuza: “há um incêndio sob a chuva rala”.
E é essa chama. Esse elemento químico que intui e insiste em olhar essa névoa.

Persistindo, mesmo que no vazio cinza da estagnação, e pressentindo o éter que impulsiona a criação, a fecundação e parto das ideias.

Poucos entram aqui no blog, mas agente se atreve a produzir nem que seja para nós mesmo, acreditando que nossa energia interaja e capte outras ressonâncias, e ao bifurcar as energias alheias resulte, através da percepção, um instante bom. Para que a força que nos bloqueia se anule diante da natureza e da força do éter.
 E que pelo menos o que chamamos de tempo humano encurte mais na passagem da névoa cinzenta do que dos momentos de ócio e criatividade artística, filosófica e cultural.



*uso a definição de hiato como alguma coisa que está ligando / separando duas partes.
Elivaldo Melo

domingo, 30 de janeiro de 2011

Sobre a arte de congelar pessoas


Lendo uma reportagem numa revista de grande circulação sobre o tempo que um apresentador tem no comando de seu programa em uma Rede de Televisão me deparei com um questionamento: ele está na faixa dos trinta e cinco anos bem sucedido e também produziu grandes feitos na vida pessoal e profissional.

Até aí tudo bem, caso não o comparasse com um cidadão comum: Estagnado, com mais de trinta anos, com uma profissão sem reconhecimento, sem grandes feitos, tanto na vida profissional, como pessoal. Aí me vem à pergunta:

- seria isso uma forma de congelamento das pessoas no tempo?

Essa estagnação, essa suposta incompetência, que algumas pessoas vivem no tempo e no espaço e que outras tão “glamourosamente” nos “inferioriza” a ponto de refletimos e pensarmos que estamos congelados no tempo? Sem produzir nada, sem criar nada e só reproduzindo “coisas” e pensamentos.

Pois é, foi nisso que pensei.

O cotidiano nos comprimem a uma enfadonha rotina de tarefas que, às vezes, desagradáveis e ouras nem tanto, parecem que nos obriga e nos condicionam a uma suposta “pedra de Sísifo” e transforma a nossa vida em um tormento contínuo. Quando pensamos que conquistamos algo vem sempre um problema do tamanho de nosso empenho e de nossas conquistas. E, às vezes, nem tão grande assim, mas conseguimos sem refletir, transformá-lo numa coisa gigantesca! E é isso que nos congela. É isso que nos dá a sensação de paralisia. Tanto perante a vida, quanto aos projetos realizados e bem sucedidos no nosso cotidiano que chega ao ponto de não percebemos que evoluímos e nos transformamos. Onde ficaria então a sensação de congelamento?

Não é de hoje que a Ciência tenta congelar o ser humano, nem é novidade o esforço que o homem faz pra descobrir a máquina do tempo. Pois bem, nós temos a máquina de congelamento. Ela reside na percepção que temos de determinados assuntos e reflexos sociais. A arte de congelar o ser humano está na percepção que temos que algumas pessoas já nascem prontas, plastificadas, com rótulos e expostas em vitrines de lojas e supermercados.

Homens e máquinas! Estamos vivendo um paradoxo contemporâneo que nos conduz a um pensar automático. Não nos conscientizamos de que a vida é um processo. E cada processo tem suas nuances e reflexos contínuos e harmoniosos. A vaidade e o egocentrismo exacerbado da natureza de cada um faz com que se percam a noção desse tempo e espaço reservado pela vida para saborear cada passo, cada momento, transformando assim, nossa vida e nossa figura humana, num verdadeiro super-star, num super-homem, ou qualquer coisa que nossa percepção possa compreender e distorcer da realidade, de um cotidiano comum. Sem que possamos nos comparar com reflexos midiáticos e ilusórios. Com personagens criados para o consumo, seja de produtos, como de idéias prontas e bem sucedidas. Aí sim ficamos inferiorizados, pois é impossível todos nascerem bem sucedidos e ter todas as oportunidades possíveis e asseguradas. E, enfim, ter o final feliz.

Apesar de num determinado momento histórico a Ciência tenha considerado o ser humano similar a uma máquina potenciadora de energia, sabemos hoje que interagimos com outros seres e com outras matérias e formas de energia. Portanto, máquinas sim, mas de congelamento! Congelamento das idéias!

A idéia nasce da percepção que cada um tem de si e do mundo que os rodeia, dos projetos de vida, das necessidades, e dos desejos que projetamos a cada passo ( é, a cada passo), pois o ser humano é mutável, pelo menos foi isso que me ensinaram e que aprendi nos livros. Assim seria muito contraditório pensar em congelamento humano levando em consideração a idéia de mutação. Outra projeção humana – a metamorfose ambulante – mas, não entraremos nesse mérito da mutação humana, se estamos refletindo sobre o oposto, que é a arte do congelamento.

Então de que maneira nosso cérebro congela as pessoas e nos congelamos também, ora, pois, pensando!

A sensação que temos que o tempo passou e não fizemos nada na vida em comparação a outras pessoas é puramente ilusória.

Você diria:

E daí? Todo mundo pensa nisso.

É, mas eu diria:

Pensa, mas não congelado!

Nisso reside à arte de congelar pessoas. Pois embora estejamos completamente alienados, vivendo consumindo todos os produtos fúteis e efêmeros que a contemporaneidade nos oferece, ainda assim pesamos, ou seja, não somos máquinas!

É isso que nos salva de qualquer sentença de condenação a uma máquina. E nos libertamos desse calvário, onde nos desacordamos da vida e nos comparamos com entidades e mitos humanos produzidos pela mídia.

É o mesmo pensar “alienado” que nos faz delirar no tempo-espaço da vida e do cotidiano e refletir na real, sem mascaras, luzes, e programas de retoques de computador. Acharemos assim a maneira deslumbrante e magnífica da arte de congelamento humano, mas o congelamento de entidades geradoras de fantasias. Onde possamos nos orgulhar dos nossos feitos, grandiosos pela magnitude de existir e não de refletir. Pelo ato de simplesmente acontecer, sem obrigações, importâncias e responsabilidades rígidas e impossíveis.

E assim a arte de congelar pessoas será alcançada pelo simples ato de pensar, inerente a todo ser humano(mesmo estando alienado). É democrático.

Portanto, podemos congelar pessoas pensando.

O que faz uma pessoa passar nove, dez ou vinte anos no mesmo programa de TV, na mesma emissora, com a mesma fortuna, a mesma audiência, com os mesmos mimos? Sem crises, sempre rindo, sem perder o emprego, sem ser traído pelos amigos, pelos irmãos, sem ser abandonado pela amada e sem tomar um porre no boteco? Não é um congelamento?

Pois é, a vida é mutante, assim como nós. E a arte de congelar pessoas alcança seu ápice no pensar, ou melhor no não pensar nessas bobagens que nos rodeiam continuamente sem que possamos nos livrar delas e nos faz pensar que somos inferiores, que não temos projetos bem sucedidos. E que a vida comum não tem valor, as pessoas comuns não tem valor.. Por que ela não acaba, nem começa. Ela simplesmente acontece ou congela. E nós temos a arte de congelar pessoas. Precisamos saber se congelamos os mitos ou a nós mesmos.


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sábado, 30 de outubro de 2010

Abre a porta Maria!


Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar... Já era tarde e cansou de esperar.

No meio da floresta havia um casebre onde morava uma bela moça chamada Maria. Ela vivia esperando o seu grande amado que partira sem dá notícias de uma hora para outra.

Tudo ficava longe para Maria, sem noticia, sem parentes e a única companhia de Maria era seu cachorro pequeno, que de tanto convívio, parecia que falava telepaticamente com Maria.

Ás vezes, durante a noite Maria sempre recebia uma visita assustadora com voz tremula que batia a sua porta e fazia a pergunta:

- Maria?

-abra porta Maria!

E seu fiel cachorro antes mesmo que Maria acordasse anunciava:

Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar.

Depois de muitas noites Maria percebeu que alguém visitava sua casa e era impedido de entrar.

Maria irritada já não estava gostando das antecipações de seu amigo e começou a questionar.

E se fosse seu amado agoniando e tentando fazer um contato.

Maria passou então a dormir mais tarde para que seu cachorro não tivesse chance de responder e Maria conseguir fazer pelo menos um contato.

Numa dessas noites enluarada o ventou soprou novamente e dessa vez assustadoramente. Seu cachorrinho assustado correu rapidamente ficou atrás da porta.

De repente ouve-se batidas.

E a voz novamente:

- Maria?

- abre a porta Maria!

Antes que Maria respondesse o cachorro falou:

- Maria lavou os pés, lavou as mãos, e foi se deitar...

Irritada, Maria começou a gritar com seu cachorro. Precisava agir para que ele não interrompesse mais as investida que ocorriam nas noites de luar.

E se fosse seu amado de volta? E se fosse um príncipe?!

Poderia ser alguém que fosse salvá-la daquela solidão.

Então desesperada amarrou seu cachorro e deixou-o de castigo por alguns dias. Quem sabe assim ele aprendia e quando a chamassem de novo ele não poderia interromper sua aproximação de alguém que poderia lhe tirar daquela solidão e daquele lugar horrível.

Passaram-se alguns dias e novamente ao cair da noite, e já tarde, o vento começa a soprar.

Maria, desta vez atenta, ficou perto da porta.

E a voz pergunta:

- Maria?

- abre a porta Maria!

E antes que Maria respondesse o cachorro, mesmo amarrado, dá um uivo estremecedor atrapalhando Maria e responde ofegante:

- Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar!

E o vulto novamente vai embora deixando Maria em paz.

Maria em estado de fúria mata o cachorro e o enterra no quintal.

E fala pra se mesma:

- agora quero vê quem vai me atrapalhar!

Passado alguns dias e ao cair da noite Maria ansiosa espera a voz que tanto a procura.

Quando o vento sopra a porta recebe as pancadas e a pergunta é feita:

- Maria?

- abre a porta Maria!

E antes que Maria respondesse lá de fora veio uma voz:

- Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar.

E o vulto sombrio afastar-se e vai embora novamente.

Maria desesperada xinga o cachorro de tudo que é nome. E no outro dia desenterra os ossos do quintal e queima-os deixando só as cinzas espalhadas pelo chão perto do jardim.

A noite cai e Maria mais que ansiosa a esperar pela voz que a chama novamente:

- Maria?

- abre a porta Maria!

Maria entrou em estado de choque, se atrapalha, e demora a responder.

E do quintal as cinzas respondem:

- Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar.

O vulto vai embora novamente.

Maria sem entender mais nada começou a se lamentar e rogar praga sobre o cachorro que a protegia.

De repente o vento sopra e levar embora as cinzas pra bem longe da casa de Maria. Livrando-a de vez daquela proteção excessiva.

Passados alguns dias Maria conformada com a situação de abandono nem lembrava mais do cachorro nem do pretendente que a vinha buscar durante as noites enluaradas.

E no meio da noite escuta uma voz longe. E a porta a bater:

- Maria?

- abre a porta Maria!

Assustada e nervosa corre a porta e espera bater novamente pra ter certeza que não era apenas um sonho. E a voz a chama:

- Maria?

- abre a porta Maria!

Maria abre e se assusta! Um monstro horrível veio lhe matar.

O vento havia levado as cinzas obedecendo a seus pedidos e lamentos.

E sua proteção que sempre a defendia já não existia mais.

O seu anjo da guarda em forma de cachorro havia partido pra sempre.