Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar... Já era tarde e cansou de esperar.
No meio da floresta havia um casebre onde morava uma bela moça chamada Maria. Ela vivia esperando o seu grande amado que partira sem dá notícias de uma hora para outra.
Tudo ficava longe para Maria, sem noticia, sem parentes e a única companhia de Maria era seu cachorro pequeno, que de tanto convívio, parecia que falava telepaticamente com Maria.
Ás vezes, durante a noite Maria sempre recebia uma visita assustadora com voz tremula que batia a sua porta e fazia a pergunta:
- Maria?
-abra porta Maria!
E seu fiel cachorro antes mesmo que Maria acordasse anunciava:
Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar.
Depois de muitas noites Maria percebeu que alguém visitava sua casa e era impedido de entrar.
Maria irritada já não estava gostando das antecipações de seu amigo e começou a questionar.
E se fosse seu amado agoniando e tentando fazer um contato.
Maria passou então a dormir mais tarde para que seu cachorro não tivesse chance de responder e Maria conseguir fazer pelo menos um contato.
Numa dessas noites enluarada o ventou soprou novamente e dessa vez assustadoramente. Seu cachorrinho assustado correu rapidamente ficou atrás da porta.
De repente ouve-se batidas.
E a voz novamente:
- Maria?
- abre a porta Maria!
Antes que Maria respondesse o cachorro falou:
- Maria lavou os pés, lavou as mãos, e foi se deitar...
Irritada, Maria começou a gritar com seu cachorro. Precisava agir para que ele não interrompesse mais as investida que ocorriam nas noites de luar.
E se fosse seu amado de volta? E se fosse um príncipe?!
Poderia ser alguém que fosse salvá-la daquela solidão.
Então desesperada amarrou seu cachorro e deixou-o de castigo por alguns dias. Quem sabe assim ele aprendia e quando a chamassem de novo ele não poderia interromper sua aproximação de alguém que poderia lhe tirar daquela solidão e daquele lugar horrível.
Passaram-se alguns dias e novamente ao cair da noite, e já tarde, o vento começa a soprar.
Maria, desta vez atenta, ficou perto da porta.
E a voz pergunta:
- Maria?
- abre a porta Maria!
E antes que Maria respondesse o cachorro, mesmo amarrado, dá um uivo estremecedor atrapalhando Maria e responde ofegante:
- Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar!
E o vulto novamente vai embora deixando Maria em paz.
Maria em estado de fúria mata o cachorro e o enterra no quintal.
E fala pra se mesma:
- agora quero vê quem vai me atrapalhar!
Passado alguns dias e ao cair da noite Maria ansiosa espera a voz que tanto a procura.
Quando o vento sopra a porta recebe as pancadas e a pergunta é feita:
- Maria?
- abre a porta Maria!
E antes que Maria respondesse lá de fora veio uma voz:
- Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar.
E o vulto sombrio afastar-se e vai embora novamente.
Maria desesperada xinga o cachorro de tudo que é nome. E no outro dia desenterra os ossos do quintal e queima-os deixando só as cinzas espalhadas pelo chão perto do jardim.
A noite cai e Maria mais que ansiosa a esperar pela voz que a chama novamente:
- Maria?
- abre a porta Maria!
Maria entrou em estado de choque, se atrapalha, e demora a responder.
E do quintal as cinzas respondem:
- Maria lavou os pés, lavou as mãos e foi se deitar.
O vulto vai embora novamente.
Maria sem entender mais nada começou a se lamentar e rogar praga sobre o cachorro que a protegia.
De repente o vento sopra e levar embora as cinzas pra bem longe da casa de Maria. Livrando-a de vez daquela proteção excessiva.
Passados alguns dias Maria conformada com a situação de abandono nem lembrava mais do cachorro nem do pretendente que a vinha buscar durante as noites enluaradas.
E no meio da noite escuta uma voz longe. E a porta a bater:
- Maria?
- abre a porta Maria!
Assustada e nervosa corre a porta e espera bater novamente pra ter certeza que não era apenas um sonho. E a voz a chama:
- Maria?
- abre a porta Maria!
Maria abre e se assusta! Um monstro horrível veio lhe matar.
O vento havia levado as cinzas obedecendo a seus pedidos e lamentos.
E sua proteção que sempre a defendia já não existia mais.
O seu anjo da guarda em forma de cachorro havia partido pra sempre.