domingo, 18 de outubro de 2009
MOMENTO POÉTICO
A G O R A
Despedaçou.
Voou no vento frio da tarde.
Se foi.
A louca ergueu os braços.
Tentou reter pedaços.
Soluçou.
Olhou bem todo espaço.
Toda amplidão.
Aonde?
Aonde estará o chão?
Tudo partiu-se.
Seu mundo, sua vida.
E pela primeira vez, de verdade,
surgiu no clarão da tarde,
o rosto da solidão.
Tentou tocar com a mão.
Mas solidão encarcera.
Ouviu uma música ao longe.
Vozes de anjos ou demônios.
Mas o sol se foi.
Agora é sempre noite.
E toda floresta silencia ao seu passar. ( Letice Moura)
ENERGIAS
SÃO SERES INVISÍVEIS
MAS NÃO INTANGÍVEIS
NÃO QUEIRA EXPLICÁ-LAS
HÁ QUEM PENSA SABER
O QUE NEM SE QUER
É CAPAZ DE CONHECER
O COMUM ESTÁ A VISTA
NÃO COMENTE O QUE NÃO SENTE
NÃO JULGUE PELO APARENTE
QUEIRA APENAS SEU CONFORTO
NÃO CRIE INTRIGAS
COM O QUE É DO OUTRO
O PORTO SEGURO
NÃO ESTÁ ATRÁS DO MURO
(LUÍSA)
Medieval
Eu estou medieval por que sou servo.
Não sou um trabalhador.
Eu ando nas tabernas, pela madrugada bêbada.
Cito Camões pra impressionar.
Sou contemporâneo e cosmopolita.
Sou do século XXI.
Eu sou também um bobo da corte.
Da corte azul.
Azul Pré-sal.
Mas eu sou vermelho, sou branco
E pardo misturado.
Não sou puro.
De vez em quando eu sou capitalista.
Da capital.
Das Capitanias Hereditárias.
Da capital do Brasil.
Viajo para Europa nos domingos chuvosos.
Eu tomo a Jurema Sagrada.
Entro no túnel de São Tomé e saio em Machu Picchu.
Faço balonismo na Bélgica de Itanhaém.
Visito a louca da biblioteca à tarde.
Só tenho dois pares de sapatos.
Sou presidente.
Sou superintendente.
Eu sou medieval. (Elivaldo Melo)
A hora do cansaço
As coisas que amamos,
As pessoas que amamos
São eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
No limite de nosso poder
De respirar a eternidade.
Pensa-las é pensar que não acabam nunca,
Dar-lhes molduras de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra(maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
E todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
De respirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
Rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto acre na boca,
Na mente, sei lá, talvez no ar.
( C. D. Andrade)
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